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Tó Palermo

You Talking To Me? - Taxi Driver

Quando entrei na sala do Cine Fóz em Vila Real de Santo António nem sabia ao certo que filme iria ver nessa noite. Sabia que era protagonizado por um actor que eu gostava bastante (agora gosto muito mais!) e que se passava em Nova York. Na altura pouco se ouvia falar dos filmes que saíam em Portugal ( e que chegavam a esta terra com cerca de 1 ano de atraso, ou até mais ), não havia trailers, ou coisa que o valha, nos jornais pouco se falava de cinema e existiam apenas na parede do cinema aqueles cartazes com algumas fotografias de cenas do filme.

Quando saí do cinema após ver o filme, não sabia se tinha gostado ou detestado, simplesmente vi sem entender muito bem o que se encontrava por "detrás das imagens". Só muitos anos mais tarde, após uma nova visualização, comecei a compreender o contexto em que as personagens estavam inseridas e a forma pouca ortodoxa que o director Martin Scorsese tinha de contar uma história "negra". Hoje é para mim um dos meus filmes de culto que guardo em DVD, para quando voltar a apetecer-me ver um pouco da degradação da raça humana, pelos olhos de Scorsese, numa proporção ínfima em comparação com o mundo que nos rodeia.

Para quem nunca viu, deve fazer umas visualização pois é um dos filmes importantes da história do cinema.


 

Em 1976, ano de lançamento do filme Taxi Driver, o nome do diretor norte-americano Martin Scorsese ainda não ocupava qualquer lugar de destaque no cinema mundial. Esta longa-metragem protagonizada por Robert De Niro ( o taxista/ex-militarTravis Bickle ) lançou os dois a um novo patamar e é considerado ainda hoje um dos maiores filmes não só da carreira de Scorsese mas da própria história do cinema.

O argumento do fime escrito por Paul Schrader, baseou-se em grande medida no romance de Fiódor Dostoievski – Notas do Subsolo. Os três personagens marginais citados no filme têm em comum a busca da redenção da sua própria miséria por meio de actos grandiosos, que tragam um sentido real ao seu tormento. Buscam afirmar a sua exclusão numa posição destacada. Nutrem ódio e ressentimento por quase todos os que se cruzam no seu caminho e, na sua via crucis, tentam encontrar meios de causar uma ferida, ainda que solitária, em tudo o que tanto desprezam. Martin Scorsese enquadra os olhos de Travis Bickle (de Niro) no retrovisor dianteiro de seu táxi. Eles brilham de ódio, enquanto as luzes vermelhas das ruas de Nova York tingem os detalhes do referido plano. É importante levar em linha de conta o trabalho do cineasta, junto a seu diretor de fotografia Michael Chapman, com uma fantástica paleta de cores em Taxi Driver. Nova York surge sem qualquer glamour ou vestígios de romantismo. Ao contrário – a sujidade nas ruas, quase sempre lamacentas, representa a própria degradação dos homens. Se há romantismo no filme, certamente ele está apenas no olhar amargo e inconformado de Travis.

O que mais impressiona em Taxi Driver, mais de quarenta anos após o seu lançamento, é fascínio inesgotável da obra entre gerações. Em dias em que o amor à humanidade é uma declaração quase que obrigatória, é curioso pensar que um personagem tão avesso a isso, que personifica tanto mal-estar, consiga comunicar-se tão bem com todos nós. Travis Bickle lembra, através da direção emotiva e plena de ansiedade de Scorsese, que uma boa dose de repulsa entre os homens sempre será um ingrediente natural da vida. É algo para perturbar de facto, os que esperam encontrar sempre um mundo perfeitamente feliz e harmonioso. O filme de Martin Scorsese pode ser muito bem guardado para elucidar os nossos piores dias ou para nos salvar das nossas maiores estupidezes.

(Texto sintetizado de Marcelo Sobrinho)

Taxi Driver – EUA, 1976 Direção: Martin Scorsese Argumento: Paul Schrader Elenco: Robert De Niro, Cybill Shepherd, Jodie Foster, Martin Scorsese, Harvey Keitel, Albert Brooks, Peter Boyle, Leonard Harris.






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